quinta-feira, 12 de maio de 2011

Fuga (2007)

A criatura que aterrisa no balcão da pia
é uma coisinha de cêra rosada e transparente.
Os olhos bolas pretas, esbugalhados.
Os dedos estirados agarrando o mármore,
o corpo tenso e inerte. Alerta.

A tua fragilidade e a tua pequenez
me comovem até o útero.
Mesmo assim (ou talvez, por isso mesmo)
você não cabe na minha vida.

Eu ofereço uma ponta de revista,
carona de volta à varanda.
Ela dispara parede acima, rumo a cantos escuros,
becos sem saída.

Sinto uma pontada quente de remorso.
Nalgum instante da vida fomos todos assim,
fetos espantados
apostando na tensão de superfície.

3 comentários:

na vinha do verso disse...

este espanto
nos espalma
para a vida

lindos versos fugazes

abs, Lavínia

f.f. disse...

bem platônico heim? mas no que diz respeito a caverna eu preciso mesmo me curvar a platão, e a ti que me renovou o tapa dado pelo filósofo. (odeio admitir que ele estava certo em algo!)

bom poema.

visita-me.

f.f.

f.f. disse...

[adendo]

vi seu blog de traduções! muito legal a idéia. sensacional. comento aqui pq o dito cujo parece meio às moscas - lástima! -; digo então: "words want to be born" ficou FODA, melhor que o original (que me perdoe a hilda). vc já submeteu suas traduções de poetas brasileiros a revistas estrangeiras, tipo a granta? se não, deveria.


até.

f.f.